Hoje eu almocei sozinho em um restaurante aqui perto de casa. Almoçar sozinho não está entre meus programas prediletos, mas é nestas ocasiões que costumo praticar um pecado indefensável: prestar atenção na conversa alheia. Com o tempo, a gente desenvolve alguns métodos muito sutis de exercitar esta completa falta de educação. O mais eficaz deles também é o mais simples. Ele consiste em jamais olhar na direção de onde vem a conversa. Quem já parou um minuto para observar gatos e cachorros, sabe do que estou falando. Eles giram a orelha na direção de onde está vindo o som, sem mover a cabeça. É uma maneira muito elegante de ser indiscreto e curioso. Não sei mexer a orelha como os cães e gatos, mas com o tempo a gente aprende a apurar a audição e ouvir somente aquilo em que está interessado.
Bom, depois desta introdução desnecessária, reproduzo aqui o diálogo que ouvi enquanto comia meu estrogonofe com arroz e salada de alface. Dois caras estavam sentados em uma mesa atrás da minha. Deviam ser músicos, porque só falavam sobre gravadoras, selos e instrumentos. Acredito que não eram músicos muito produtivos, pois fazia cinco anos que não gravavam nada. Nisso entrou no restaurante um amigo deles, mais sóbrio, de terno e gravata escuros, que veio animado até a mesa para cumprimentá-los.
- Pô, que coincidência encontrar vocês aqui - disse o recém-chegado enquanto abraçava um dos caras que havia se levantado para recepcioná-lo. - E aí, alguma novidade?
- Sim - respondeu o rapaz que se levantou. - Eu estou envolvido num projeto super bacana. Mas não vou contar para você porque não quero que se espalhe.
O cara ficou meio sem graça, perguntou como ia o casamento do amigo e depois correu para procurar uma mesa bem longe deles. E os outros dois continuaram alegremente sua conversa sobre batidas, percussão e a dureza do mercado fonográfico.
Almoçar sozinho é chato, mas às vezes a gente volta pra casa com uma pérola no bolso.
quarta-feira, agosto 26, 2009
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7 comentários:
O bom é que você não deixa suas pérolas no bolso e as compartilha conosco.
Hahaha...adorei
Beijo grande Sérgio
Brigadão, querida. Melhor que compartilhar, é saber que vocês passam por aqui. beijão
É a síntese masculina da calhordice, né? Quando eu digo que personagem masculino é difícil de escrever, me chamam de machista. Mas vê esta cena... Com uma fala, o cara deu um retrato completo... Fosse uma mina, ela ia estar até agora parada ao lado da mesa, trocando idéia...
Mário, pensei a mesma coisa. O cara promoveu uma situação tão constrangedora. Por que dizer que você tem algo bacana em vista mas não pode contar? É o mesmo que dizer: eu não confio em você. Vou ver Poder Paralelo para ver se o Tony vai fazer isso...
confesso: eu também adoro fazer isso (ouvir conversa alheia), e tenho a mesmíssima técnica! o duro é não torcer o pescoço p/ ver a cara de um fofoqueiro como esse engravatado, né?
Ae cara eu tenho um blog e gostei muito do seu quer seguir o meu blog
url : http://ultrayes.blogspot.com/
Olá! Legal o texto! Queria pedir licença para mostrar um texto do nosso blog.
MURICY NO CRUZEIRO?
http://andremansur.com/blog/muricy-no-cruzeiro/
Abraços,
Redação do Blog do Dr André Mansur
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