Alguns momentos em nossas vidas se assemelham àquela situação enfrentada por um motorista numa cidade estranha, tendo como referência apenas um mapa equilibrado no colo: por mais que esteja atrasado, ele sabe que, se quiser chegar ao destino, terá de parar o carro para saber onde realmente se encontra. Terá de olhar o mapa com vagar, conferir o trajeto percorrido, verificar se houve erros ou não e estipular que rumo tomar para chegar aonde pretende. Em movimento, ele sabe, é impossível fazer tudo isso sem correr riscos. A lógica e a prudência recomendam uma pausa para o ajuste das rotas.
A vida, penso eu, se mostra assim, às vezes. Temos de nos recolher em algum tipo de silêncio, em algum tipo de refúgio ainda que imaginário, para que o passo seguinte não seja aquele a nos precipitar para o abismo. Os abismos na vida são inevitáveis, cada um de nós sabe disso. Não apenas inevitáveis, eles são traiçoeiros e peritos em surgir no que julgávamos ser a planície dos nossos sonhos.
Com o tempo, a sucessão de quedas e uma dose de experiência que nunca se revelará suficiente, aprendemos a farejar a proximidade do abismo como os gatos percebem o pequeno inseto invisível aos nossos olhos. E então temos a chance de parar um pouco, de tentar conter a onda que se agiganta à nossa frente, ou ao nosso redor, e optar por uma segurança que talvez só a solidão e a quietude nos reservem. Ainda que uma falsa segurança, é provável.
Poderia ser tão bom, se parar não fosse muito mais difícil do que prosseguir, do que deixar-se arrastar pela ilusão de um vento suave, do que ceder a todos os apelos que nos chegam por cada um dos nossos sentidos. Parar um pouco não significa dizer não à vida, represar as marés, fazer calar todos os gritos altos e incômodos. Parar um pouco significa apenas isso mesmo: parar um pouco. Como o motorista que, em movimento, não consegue mais reconhecer o cenário daquela cidade estranha em que ele acabou de chegar.
No entanto, por mais que seja premente parar, ainda resta uma questão em aberto: o que fazer diante de todo este silêncio, de todo este dolorido e prolongado silêncio, que a pausa nos traz?
quarta-feira, junho 24, 2009
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7 comentários:
ei, roveri...
obrigada pela reflexão... estou assim: parada. tive que parar para pensar onde estou, onde quero chegar e como vou. mas dói esse silêncio. porque a resposta está dentro da gente. até respirar, silenciar, pensar, achar... ai...
um beijo!
Somos dois, querida.
Bem-vinda ao time!!!
Beijão
A gente é criado pra não parar. Senão, o mofo toma conta. Há o medo da morte, a morte em vida, o esquecimento... Mesmo sem querer, a gente se contamina com o vírus das celebridades alucinadas... E esquece que parar faz parte do movimento.
bjs
Pois é, Mário, concordo com você. O movimento é o que nos mantem vivos e eu acho que tem de ser assim. A vida continua e vai continuar enquanto estivermos por aqui - embora alguma coisa dentro da gente pare, não é? beijão
Fomos criados para estar continuamente movimentando o PIB, sem dar uma pausa. E' por isso que estou com uma crise programada para acontecer a partir de dezembro desse ano e vou financiar a me/myself and I um ano sabatico (work free). Recomendinho.
Engraçado que, quando comecei a ler o post, tinha certeza que seria sobre o Michael Jackson. Não era, mas era, podia ser, pra mim foi. Acho que ele não soube a hora de dar um respiro, a hora de se conformar o nariz, com a pele, com tudo que nada mais era do que ele mesmo. Ele foi se negando tanto, sem parar um pouco, que se esgotou. Creio que melhor manchete do que "Michael Jackson morreu" seria "Michael Jackson se esgotou".
Oi, Kiko, você errou por muito pouco. O post aí de cima é sobre o Michael Jackson...
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