Às vezes, algumas histórias incríveis estão tão perto de nós e não nos damos conta delas. Tudo porque raramente paramos para conversar com calma e tempo com algumas pessoas que estão à nossa volta. Hoje à tarde eu me permiti um demorado café com um amigo com quem eu só andava conversando por e-mail ou torpedos. E, depois de umas duas horas de papo, descobri o quão pouco eu sabia a respeito dele. Dentre as várias histórias que ele me contou, uma atraiu de modo particular a minha atenção.
Quando tinha 13 anos, este amigo decidiu se dedicar aos esportes – até então, eu achava que o máximo que ele fazia era correr 20 minutos na esteira como eu, e isso em dias de muito ânimo. Ele se matriculou em uma escolinha de futebol e, embora acreditando que não tivesse talento algum no gramado, apostou no esforço pessoal para ser reconhecido. Passou, então, a treinar todos os dias, fins de semana aí incluídos. Nos primeiros meses, ele nunca era escalado para as partidas mais sérias na tal escolinha – o que só fazia crescer a sua determinação para treinar mais e mais. Sempre que era deixado de fora das escalações, no dia seguinte ele aumentava a disciplina nos treinos. Queria provar que merecia estar ali. Até que todo o esforço começou a dar resultado.
Aos 15 anos, foi contratado por um time do interior paulista e, prestes a completar 18, foi levado para um time da Espanha e, de lá, para a França. Não eram grandes clubes e ele nunca chegou a brilhar na Europa: disputava alguns campeonatos regionais e ganhava o suficiente para viver bem e guardar alguns trocados. Mas, afinal, estava na Europa e nas mãos de um bom empresário. Então ele começou a se perguntar por que, já com mais de 20 anos, sua carreira não deslanchava. A resposta, surpreendente, foi se revelando aos poucos: ele descobriu que o problema não era a pretensa falta de talento, que havia sido mascarada graças a uma disciplina espartana. O problema era a falta de paixão. Com pouco mais de sete anos de carreira e dezenas de jogos e treinamentos nas costas, ele se deu conta de que nunca amara realmente o futebol. Começou a jogar por um impulso da adolescência e quis provar a todos aqueles que o rejeitaram que ele um dia poderia driblar como um Ronaldo ou um Kaká. Ele nunca chegou a tanto, é verdade, mas seu futebol dava para o gasto. Mas quando finalmente provou que havia aprendido a jogar e que sua carreira tinha ido mais longe do que a de todos aqueles que um dia duvidaram dele, a brincadeira perdeu a graça. Ele gastara sete anos da vida tentando agradar seus detratores sem jamais pensar em seu prazer pessoal.
Ele abandonou o gramado, voltou para o Brasil, tentou uma nova profissão bem longe dos campos e, em pouco mais de um ano, todas as economias trazidas da Europa haviam sido consumidas em uma série de projetos fracassados. Sem dinheiro, viu-se obrigado a fazer os bicos mais improváveis – da construção civil ao cultivo de lavouras. Nunca mais teve coragem de ver uma partida de futebol, nem mesmo pela televisão. E então novas oportunidades profissionais foram surgindo em sua vida – e foi uma delas que de certa forma nos aproximou. Atualmente com dois empregos, ele começa a ver a nuvem negra se dissipar. De tudo isso, ele disse ter aprendido uma lição para toda vida: nunca mais quer fazer nada apenas para provar aos outros que é capaz de fazer alguma coisa. Disse que o preço é alto e a satisfação nunca chega. Eu fiquei feliz com esta história e também com o fato de ter deixado o e-mail um pouco de lado para ouvir o que alguém tinha realmente a dizer. Recomendo.
quinta-feira, maio 07, 2009
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5 comentários:
Surpreendente. Triste, muito triste.
E não é mesmo verdade? Lição pra guardar pro resto da vida. Não importa quanto resta de vida.
lição de vida, sim. e não triste. humana. demasiado humana. adorei. abração, querido! guza.
Pois é, meus queridos. O legal é que ele falou que está feliz como nunca esteve antes. Isso, no fundo, é o que importa, né?
Oi Sérgio, tudo bem?
Como estou alegre em encontrar esse cantinho!!!
Após ler uma matéria na Bravo, quis muito saber mais sobre "Ensaio para um Adeus Inesperado". Estudo cinema e estamos em fase de pré produção de um curta que tem a ver, pelo pouco que li, com seu texto. Pesquisando sobre a peça acabei descobrindo seu blog... que bom!
Um grande abraço,
Karla
Oi, Karla, como vai? É um prazer para mim receber sua visita por aqui. A peça estreia no dia 20 de maio, espero que você possa ir. Se você quiser mais informações, me mande um e-mail que terei prazer em responder. abração, sérgio
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