Ontem, dia 31 de outubro, entrevistei pela terceira vez a atriz Cleyde Yáconis. Não sei se foi a entrevista que me levou a criar este blog um dia após falar com ela. Talvez tenha sido, talvez não. Na verdade, ganhei um blog de presente há alguns meses, feito por um amigo jornalista, poeta e íntimo do mundo virtual, o Roberto Romano Taddei. Na época, agradeci pela gentileza, mas nunca escrevi uma palavra no blog que ele me criou e que se chamava O Blog do Massa.
Novamente ontem, após a entrevista, tentei entrar no velho blog. Eu ainda tinha o nome e a senha, mas o blog havia se perdido no mundo virtual. Fui brindado com um not found após colocar o endereço. Por que falei da Cleyde Yáconis nesta minha primeira investida como blogueiro? Aliás, se alguém souber de alguma palavra mais feia, que me apresente. Ou melhor, que me afaste dela.
É difícil conversar com esta atriz de 83 anos sem que o assunto não caia, inevitavelmente, em sua preocupação com a natureza. Cleyde, para ser sincero, talvez não esteja mais preocupada com a natureza, justamente por considerá-la irremediavelmente perdida. Ela acredita que dentro de pouco tempo teremos uma resposta da natureza às agressões que fazemos a ela diariamente muito mais devastadora que os tsunamis e as erupções. "Vai ser bem breve", ela disse. "Mas eu não estarei mais aqui". Ao ouvir isso, respondi: espero que eu também não esteja. Ela me olhou e diagnosticou, com sua voz grave. "Infelizmente você estará, sim".
Não sei se fiquei contente por saber que ainda viverei por mais algum tempo ou se devo me desesperar por ter a certeza de que ainda estarei por aqui quando a natureza perder o pouco de humor que ainda lhe resta. "Não tive filhos porque nunca quis tê-los. Não viajo para o Exterior, não me interesso pela São Paulo Fashion Week, meus móveis têm mais de quarenta anos e só uso roupas velhas. Enfim, sou uma mulher barata. E, justamente por ser uma mulher barata, posso aceitar os trabalhos que mais me convenham e não aqueles que eventualmente me dariam mais dinheiro. Nunca pedi nada a diretor algum, nunca assediei um dramaturgo, nunca fiz lobby para conquistar um papel. Nem atriz eu queria ser, tudo que eu tive caiu no meu colo".
Ela me pediu para que eu não publicasse este depoimento na reportagem que escrevi para o Diário do Comércio. Obedeci ao pedido dela e não publiquei. Mas não pude resistir à tentação de escrever tudo isso aqui. Até porque, no momento da entrevista, nem a Cleyde Yáconis e muito menos eu sabíamos que dentro de algumas horas eu teria um blog. Fui honesto com ela e generoso com os amigos que talvez leiam estes devaneios aqui. Ao menos eles devem conhecer um depoimento tão bacaninha.
quarta-feira, novembro 01, 2006
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2 comentários:
Sérgio Roveri, querido, quando é que você vai atualizar este blog?
adorei a entrevista
.......e pare o mundo que eu quero CUSPÁ !
hauhau
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