segunda-feira, maio 02, 2011

Zé Renato

No segundo semestre de 2003, tive o prazer de participar, durante dois meses, de uma oficina de direção teatral ministrada pelo querido e já saudoso Zé Renato na Faap. Não é o caso de me estender aqui sobre o muito que aprendi nesta breve convivência com ele e nem do quanto passei a gostar e respeitar ainda mais o homem e o profissional de teatro. Amigos que tiveram a chance de conviver mais com ele poderão falar sobre seu talento e sua extrema generosidade com muito mais propriedade que eu. Tomo a liberdade de falar de Zé Renato apenas para recordar de uma historinha linda e emocionante que ele nos contou numa das tardes daquele ano.

O fato se deu em 1964, alguns meses depois do golpe militar. Zé Renato estava no Rio, selecionando o elenco para uma montagem da Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht. Ele não conseguia encontrar uma jovem cantora para um dos papéis de destaque da peça. Havia testado várias, sem se entusiasmar particularmente com nenhuma delas. Se não me engano, era o único personagem para o qual Zé Renato ainda não havia encontrado um intérprete – o que estaria atrasando o início dos ensaios. Até que um dia, quando ele já se encontrava à beira do desespero, apareceu uma atriz magrinha e tímida, chamada Marília Pêra, que acabou levando o papel.

No dia seguinte, quando o elenco da peça já estava completo, o comediante Ary Toledo procurou Zé Renato para dizer que havia encontrado a garota perfeita para o papel. Zé Renato agradeceu dizendo que, desde a tarde anterior, o papel já tinha dono. Ary Toledo não se conformou. Insistiu para que Zé Renato ao menos ouvisse a garota, ainda que fosse por uma questão de educação. Meio a contragosto e irritado por perder um precioso tempo de ensaio, Zé Renato foi ouvir a tal garota cantar.

“Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida e até hoje me recordo de cada palavra que aquela menina cantou só para mim”, contaria Zé Renato diante dos aprendizes inebriados da sua oficina de direção.

A tal garota que com muito custo ele foi ouvir tinha 18 anos, havia acabado de chegar de Porto Alegre e se chamava Elis Regina.

6 comentários:

Ricardo Aguieiras disse...

Lindo. Minha mãe sempre falava: "Artistas não deveriam morrer,jamais". O mundo fica mais pobre e, muitas vezes, são esquecidos no Brasil, país tão sem memória e desvalorizações várias. Mas este eu sei, com certeza: Zé Renato ficou pregado no coração de muita gente.
Ricardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br

Maurício Mellone disse...

Sérgio:
Linda história do Zé Renato, com duas personagens maravilhosas e tb da história cultural do nosso país, Elis e Marília Pera.
Sua oficina deve ter sido um encanto mesmo!
Gostei do seu blog e passarei a visitá-lo com frequência!
abr
Maurício
Mellone
PS: vou adorar receber sua visita no meu tb! rsrsrs
www.favodomellone.com.br

marra6 disse...

Boa Roveri ! Salve o Zé Renato !

Só no blog disse...

Oi, Maurício, brigadão. Vou visitar o seu blog, sim. abração

Aimar disse...

Grande história, como sempre muito bem escrita. Vou espalhar. abração, Aimar

Só no blog disse...

Valeu, Aimar. Brigadão pelo carinho