Quando eu tinha entre 12 e 13 anos comecei – como a maioria dos adolescentes, acredito – a ser incomodado por uma série de questões para as quais não encontrava uma resposta satisfatória. Talvez eu pensasse, naquela época e com outras palavras, que a falta de respostas fosse fruto da imaturidade e do pouco, ou quase nulo, conhecimento da vida. Mas me lembro bem de acreditar que quando chegasse aos 18 anos, junto com a carteira de motorista e o livre acesso aos filmes proibidos, viria a maturidade. Os 18 anos chegaram mais depressa do que eu imaginava e não trouxeram resposta alguma. No lugar delas, novas questões.
Encarei este fato com naturalidade. Havia tanta coisa prática a ser decidida que sobrava pouco tempo para indagações existenciais ou filosóficas. Antes de pensar em conceitos como felicidade e realização, havia que se decidir sobre qual profissão escolher, como pagar pelos estudos e como circular com alguma competência pelo mundo dos adultos – esta última ainda a ser resolvida. Achei normal, então, que eu jogasse esta sabatina da vida para os 30 anos, esta sim a idade da maturidade e do conhecimento. Os 30 anos chegaram ainda mais depressa do que os 18 haviam chegado e percebi, já com alguma consternação, que às questões levantadas aos 12 anos haviam-se somado aquelas surgidas aos 18, aos 20, aos 25 e finalmente aos 30. Em comum, todas continuavam sem resposta.
A gente não se dá por vencido tão facilmente. Os tempos modernos nos ensinaram que 30 anos é quase o final da adolescência e algumas certezas só se revelariam agora, na casa dos 40. Desnecessário dizer que os 40 também chegaram e não trouxeram as respostas. Foi então que algo de novo ocorreu neste jogo: a gente finalmente se dá conta de que, ainda que a tentação exista, é inútil esperar que o tempo venha a nos trazer alguma certeza. Acredito que seja neste momento das nossas vidas, neste momento em que a gente assume que o tempo nunca foi nosso aliado de verdade, que se instala em nós uma certa melancolia, ou um certo descrédito. Ou ainda, em casos mais leves, uma certa indiferença. O que não sabíamos aos 12, continuamos sem saber aos 40 e daí por diante, sem o consolo, funcional até agora, de que era possível jogar tudo para frente.
Hoje eu acho que a grande dor da aventura humana não é a morte, a separação, a doença, o abandono ou a frustração e seus derivados. A grande dor da aventura humana é o não saber. Não me refiro ao não saber de fundo antropológico, do desconhecimento do nosso elo perdido, de onde viemos e para onde vamos, da falta de provas de que um dia nos separamos dos nossos antepassados primatas e começamos a sofrer de hérnia de disco porque decidimos andar sobre dois pés.
Eu falo do não saber pequeno, mesquinho, que nos ataca a cada manhã em que nos levantamos da cama sem justamente saber os motivos, por menores ou mais nobres que eles sejam. Falo deste não saber que vai nos acompanhar até o último dos nossos dias: por maior que seja o número de livros lidos, de trabalhos realizados, de amigos adquiridos, de filhos criados, de sucessos e fracassos acumulados e dos incontáveis dias vividos, chegará o momento em que nos olharemos no espelho e nos perguntaremos, afinal, o que estamos fazendo aqui e qual o verdadeiro tamanho da nossa importância neste mundo, se é que existe algum. E não poderemos mais jogar esta pergunta para o futuro porque o futuro, neste dia, não existirá mais. Isto sim é a face da dor, acredito eu agora.
Mas como eu disse que a gente não desiste à toa e dar murro em ponta de faca é a grande especialidade do ser humano, quem sabe aos 70 anos eu venha a ter algumas certezas que não tenho hoje... Não custa esperar. Até porque, passa cada vez mais rápido.
terça-feira, outubro 13, 2009
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9 comentários:
Tenho exatos 18 anos... vou esperar pelos 40 "Não custa esperar. Até porque, passa cada vez mais rápido. "
Perfeito...eu tava na expectativa de que quando chegasse aos 30...quem sabe!!?? rsrsr
Márcio e Carina, obrigado pela visita. Puxa, espero que este post não tenha deixado vocês tristes... não era minha intenção.
Não esquenta, Sergio... suas reflexões são sempre afiadíssimas. E certeiras. Aos 18, a gente pensa que 30 é fim de linha. Chega aos 30 e vê que não dói. 40 já é meio assim, mas passa... quando começa a roçar os 50... a gente descobre que a idade atual é sempre perfeita, pelo simples fato de ser a atual. E isso é o máximo. Pelo menos foi o que a Canô me falou outro dia, quando tava me ensinando um movimento novo de skate.
Mário, a Canô é complicada, viu. A gente tinha marcado de voar de asa delta. Subi o morro e cadê ela? Tinha ido de andar de skate com você. Daí ela me mandou um torpedo, pedindo desculpas e dizendo que a memória anda fraca...
Massa, acho que nem aos 80 vamos ter certezas. O importante é estarmos vivos, como disse a grande Fernanda Montenegro.
É simples assim.
Aos 40, só sei que nada sei!
Queria ter tido aos 20, 30 anos, algumas das certezas que tenho hoje, aos 40. Porém, sei que aos 50 vou pensar que aos 40 queria ter tido o saber, as certezas dos 50 rsrs...
É, parece que esse poço - o das certezas - não tem fundo...
Eu de novo, só pra comentar uma coisa:
Um tempo atrás, ouvi a conversa de duas garotas que, do alto dos seus 21 anos, diziam: "Nossa, fulana é velha. Tem 37 anos."
Fiquei rindo comigo mesma, pensando: é, aos 20 anos achamos que os 30 e poucos é o fim da linha; uma coisa bem distante.
Doce ilusão! E parece que essa ilusão caminha conosco de década em década. Não sei se me fiz entender rs...
Acho que morrerei sabendo menos do que quando nasci.
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